O mercado automóvel também sofre com o aumento das taxas de juro “As pessoas procuram viaturas mais acessíveis”
Mário Matos é o fundador da Crediloja, especialista em intermediação de crédito automóvel. Nesta entrevista explica o porquê de considerar a medida do Governo relativamente ao agravamento do Imposto Único de Circulação (IUC) de carros anteriores a 2007 desajustada e o impacto e importância que o setor dos carros usados tem para o mercado automóvel.
A crediloja é especialista em intermediação de Crédito automóvel. Considerando as dificuldades conjunturais que a economia portuguesa atravessa, esta foi uma área onde os pedidos de crédito diminuíram, ou não notaram tal influência?
O automóvel é um bem essencial à vida de muitas pessoas, e por isso a procura deste produto, mesmo nos tempos de pandemia, continuou a existir. As dificuldades que
atravessamos nos últimos tempos têm levado as pessoas a procurarem viaturas mais acessíveis, acima de tudo porque já entenderam que o seu orçamento pode ser rapidamente afetado por tudo o que se passa no mundo.
Quando um cliente solicita uma proposta de crédito automóvel, quais os fatores aos quais deve estar particularmente atento? Existem condições particulares que deve cumprir para poder ter acesso a crédito automóvel?
Há várias condições que são obrigatórias cumprir no pedido de um crédito automóvel. O Banco de Portugal tem elencadas algumas dessas exigências, que depois são complementadas pelas empresas da especialidade, de acordo com as suas políticas de análise de crédito, mas a obrigação legal de ter a sua documentação atualizada e uma atividade profissional remunerada são fundamentais. O potencial comprador deverá estar particularmente atento
ao encargo mensal que consegue suportar e deverá levar em linha de conta os custos associados à utilização de um automóvel – seguros, impostos, manutenção, consumíveis, etc.
Quão importante é o papel do intermediário de crédito numa situação de análise de crédito automóvel?
O intermediário de crédito deve estar atento a situações óbvias de sobre endividamento ou de aquisições claramente desenquadradas ao perfil do comprador. Nessas situações deverá aconselhar o comprador a enquadrar a sua intenção de compra num produto mais adequado à sua situação. O intermediário de crédito deve prestar toda a informação necessária para que o comprador
possa fazer uma escolha consciente e informada dentro das empresas com as quais possa estabelecer uma relação contratual. E para isso é fundamental que o intermediário saiba explicar de forma clara o conteúdo de uma Ficha de Informação Normalizada, documento que é obrigatório facultar ao potencial comprador.
Quem compra um veículo recorre aos mercados dos Novos, mas também dos Usados. Tendo por base a vossa experiência, para que mercados de automóveis são solicitados mais pedidos de crédito?
A nossa experiência assenta mais no financiamento de viaturas usadas. E se é verdade que uma
viatura usada é, em princípio, mais acessível do que uma nova, o facto é que o preço das viaturas novas tem sofrido incrementos muito significativos, o que impacta diretamente no preço das viaturas usadas.
O Orçamento do Estado para 2024 contém uma proposta de lei que aumenta consideravelmente o Imposto Único de Circulação (IUC) de automóveis anteriores a 2007. Isto pode levar a que algumas pessoas encarem a possibilidade de trocar de carro, ou terá o efeito oposto, em que cada vez mais pessoas pararão de investirem automóveis?
O espírito da Lei em causa será, em teoria, o de levar as pessoas a abaterem as viaturas mais antigas alegando questões ambientais e de
qualidade do ar. A verdade é que, se até podemos entender o objetivo da Lei, a população portuguesa não tem na generalidade poder de compra para fazer esta troca. As viaturas mais recentes são mais dispendiosas, e mesmo considerando que as taxas de juro são mais baixas quanto mais recentes forem as viaturas, o nível de
endividamento será obrigatoriamente maior, bem como o encargo mensal associado. Perante tudo o que está a influenciar o orçamento das famílias nos dias de hoje, só podemos concluir que é uma medida desajustada e que não tem em conta a necessidade dos consumidores.